07 fevereiro 2006

O consultório da RaMaya

Olá. Queria saber se devo tratar determinados palermas por Drs., tal como eles exigem. Obrigado.
João Tarraçal.




Olá caro João. Antes de mais nada, bem vindo ao consultório da RaMaya.

Se alguém lhe exigir o título académico ("Dr., por favor"), deverá o leitor fazer cara de néscio e perguntar: "Ah sim? Que bom...onde tirou o doutoramento?". Com esta pergunta, aparentemente inócua, faz uma forquilha ao palerma: por um lado, testa se ele realmente é licenciado; depois, mostra que você, plebeu e raia miúda, percebe mais de graus académicos que o palerma.
Se porventura o tipo é mesmo doutorado, deve engolir e mostrar um sorriso amarelo. Convém confirmar qual a instituição universitária do tipo, mas a ser verdade a guerra está totalmente perdida.
Contudo, o mais certo (99% dos casos) é que o tipo/tipa seja apenas um licenciado com a mania das adulações, pois se fosse Doutor estaria a escrever a próxima obra a editar, ou simplesmente andaria de Volvo, e não a pé.
Caso o estúpido seja efectivamente licenciado, a cilada começa a caminhar para o desfecho. O tipo/tipa dirá, com uma ar de "deixa-cá-ensinar-este-ignorante", qualquer coisa como: "não, não...eu não sou doutorado. Sou licenciado pela Universidade XPTO".
Dito isto, temos o tipo amarrado pelos cornos, e a tipa pressa pelas tetas, consoante o caso.

É agora a altura do seu brilharete: "Ah, então está equivocado. Academicamente falando, só existem os graus de bacharel, licenciado, pós-graduado, mestre e doutorado. O senhor, portanto, é um mero licenciado e só assim pode ser tratado, academicamente falando, claro".
Faça um sorriso, do tipo "toma-lá-esta-e-engole", e aprecie o espectáculo que se segue: um palerma petulante enraivecido pela sua ignorância, ou corado de vergonha.

PS: Se o tipo/tipa não é licenciado basta fazer um manguito, à moda portuguesa!

Quer que a RaMaya lhe dê conselhos, totalmente grátis? Então deixe as suas questões nos comentários.

7 Comments:

At terça-feira, fevereiro 07, 2006, Anonymous Anónimo said...

Tá certo!

 
At quarta-feira, fevereiro 08, 2006, Blogger César said...

«Tá certo».

Eis a próxima questão que nos iremos debruçar na próxima edição de "O Consultório da RaMaya".

Será que o "tá certo" está certo? A abreviatura do verbo "estar" certamente estará certa com o adjectivo "certo", mas ainda assim de certeza que a certidão pode ser descertificada.

Não percam. Todas as semanas, aqui, no www.ofalaquemsabe.blogspot.com

 
At quarta-feira, fevereiro 08, 2006, Blogger José Aurélio Almeida said...

Antes de outra coisa qualquer quero expressar os parabéns a toda a equipa do Fala Quem Sabe. Nutro verdadeira admiração pelo belíssimo trabalho que desenvolvem.
Agrada-me também a vossa actualidade no tocante à utilização das novas tecnologias, como no caso deste blog.
Sobre a questão exposta n'"O Consultório da RaMaya" acrescento que, academicamente falando, também existe o grau de bacharel.
De qualquer forma o vosso conselho é magnífico, pertinente e exactamente enquadrado com que penso sobre a mania do "Dr.".
Mais uma vez felicito-vos e desejo a continuação de imensos sucessos.

 
At quinta-feira, fevereiro 09, 2006, Blogger César said...

Tem razão sim senhor. Falta o grau de bacharel, ainda que com a Convenção de Bolonha e a Estratégia de Lisboa, esse grau parece que vai ser pura e simplesmente suprimido. Mas isso ainda pertence ao futuro. Actualmente ainda existe o grau de "bacharel", daí que o post vá ser corrigido em consonância.

Obrigado pela correção e pelos elogios ao trabalho dos Fala Quem Sabe.

Um bem haja!

 
At quinta-feira, fevereiro 16, 2006, Anonymous Anónimo said...

Em primera instância quero congratular os três lavradores mais conhecidos de todos os Açores, dos quais inclusivamente já sou fã desde o bailinho das vacas loucas, bem como toda a restante equipa pelo excelente tabalho desenvolvido fazendo chegar semanalmente às nossas casas o mais divertido programa dos últimos tempos da RTPA.
Relativamente à questão do(a) "Dr(a)." gostaria apenas de deixar a seguinte nota: um tipo(a) que exige ser tratado pelo título académico será certamente pouco humilde e demasiado orgulhoso para se dar por vencido por esta resposta, principalmente se o "plebeu e raia miúda" insistir no discurso pomposo mas artificial (não se esqueçam que o Dr. pode ser arrogante mas tem, de facto, instrução académica). Por outro lado, esclareço que à licenciatura equivale mesmo o título "Doutor" e se o indivíduo for doutorado ser-lhe-á atribuído o título de "Professor Doutor", pelo que também é comum tratar os docentes (licenciados) de "Sr. Professor" enquanto eles apenas são "Doutores".
Com isto o nosso arrogante, irritante, petulante (e outros adjectivos terminados em "ante") "Dr." deixará de rastos o seu oponente desprevenido, não deixando margem para a continuação do argumento.
Conclusão, não deverá tentar enverdar por um discurso onde se sente pouco à vontade e depreende que está em desigualdade para com o dito "Dr.", pois ele acabará por saír vitorioso.
Contudo não existe nenhum Decreto-Lei, que eu conheça, que obrigue o tratamento diferênciado por grau académico, pelo que este nunca lhe poderá ser exigido. Ora, basta-lhe esta resposta e poderá sempre retirar-se com alguma dignidade.
Adeus RaMaya, foi um prazer.

 
At quinta-feira, fevereiro 16, 2006, Anonymous Anónimo said...

Dra RaMaya,
Queria levar ao seu conhecimento e como já é do conhecimento geral, que apesar de quase tod'agente conhecer o seu trabalho, este ainda não é conhecido pelas pessoas que ainda não o conhecem. Deste modo, queria saber se é possível dar melhor a conhecer o trabalho que já é conhecido àqueles que ainda não o conhecem?
Cumprimentos de um conhecido.

 
At sexta-feira, maio 05, 2006, Blogger César said...

Caro Pedro.

Em relação aos títulos Dr. e Prof. Doutor, continuo a dizer que não existe o grau de Professor, mas apenas o de Doutor (consulte-se a página do NARIC). Daí que o conselho que dei ao João Tarraçal se mantenha pleno de validade.

Outra coisa é existir um costume universitário, ou regras próprias da universidade (Prof. Doutor Auxiliar, Prof. Doutor Agregado, Prof. Doutor Catedrático, etc.).
Mas isto é dentro do meio académico, ou então por uma questão de praxe social que, como se sabe, não é vinculativa (só a obedece quem quer).

O que existe são os graus de mencionei: bacharel, licenciado, (agora também há o "especialista), pós-graduado, mestre e doutor.
Os títulos académicos variam de país para país e de área para área, mas em Portugal não existe a designação que o Pedro Oliveira mencionou (Professor).

Haverá, quanto muito, equiparação ao PhD (Philosophiæ Doctor) mas não na realidade portuguesa. O licenciado não tem o grau de doutor e o doutor não tem o grau de Professor, como equivocadamente afirmou o Pedro e como pensam a maioria dos licenciados, sujeitos à tensão académica que, depois, transportam para a realidade.

Tal como não existe nenhum decreto-lei que exige a obrigação do tratamento académico, também não existe nenhum decreto-lei que atribua a designação de professor ao doutor e de doutor ao licenciado (ainda que no diploma universitário possa lá vir doctor - lá está, praxe social).

Do mesmo modo, a praxe social trata por Doctor o Mestre (Legum Magister) que, academicamente, está acima do licenciado e pós-graduado, e logo abaixo do Doutor.

O conselho que dei ao João Tarraçal está suportado - acredite - pelo que mantém-se pleno de validade.

Assumo a minha linha francófona ou anglosaxónica. Fora do ambiente académico, todos são "Monsieur" / "Madame" ou "Mr." / "Mrs". Em português, "senhores" /"senhoras".

Sem ressentimentos. Apenas em abono da verdade. Cumprimentos.
Ramaya

 

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